CEO da Oscar de la Renta fala ao FFW sobre Brasil, mídias sociais e Galliano
A Oscar de la Renta
é uma empresa familiar. E tem orgulho disso, como ficou claro em um
evento que aconteceu em São Paulo na terça-feira (12.03) para
reapresentar ao mercado brasileiro as fragrâncias da marca (incluindo o
lançamento “Live in Love”), que a partir de maio deste ano passam a ser
distribuídas no país pela RR Perfumes e Cosméticos. Vieram ao Brasil
para representar a grife Alexander Bolen, genro de Oscar de la Renta e
também seu CEO, e sua esposa Eliza Bolen, enteada do estilista e VP de
marketing da companhia. “Oscar pede desculpas por não estar aqui, mas
ele está na praia”, brincou o CEO.
A ação no Brasil é uma extensão da
estratégia de reorganização interna da Oscar de la Renta que começou em
2008, quando a empresa decidiu reassumir o controle de suas operações de
cosméticos e fragrâncias, que haviam mudado de mãos seis vezes nos
últimos 10 anos e perdido sua identidade e qualidade, como explicou
Alexander Bolen. Para isso, porém, foi preciso levantar capital, e a
Oscar de la Renta vendeu parte de suas ações para a GF Capital
Management and Advisor, o que gerou especulações sobre o futuro da
empresa, uma das poucas do mercado de moda de luxo que não fazem parte
de grande conglomerados.
Este ano, o nome Oscar de la Renta virou
novamente foco de especulações, mas desta vez, no setor criativo,
quando foi anunciado que John Galliano voltaria ao trabalho no ateliê do estilista dominicano, em meio a preparativos para o desfile de Inverno 2013 da marca.
De la Renta completa 81 anos em 2013, e não é de hoje que fala-se sobre
quem poderia assumir seu posto quando ele se aposentar; a presença de
Galliano em seus escritórios só fez alimentar a curiosidade sobre a
sucessão criativa da empresa.
O FFW aproveitou a presença no Brasil do
CEO Alexander Bolen para perguntar sobre os fatos e os boatos da Oscar
de la Renta; confira abaixo a entrevista:
Nos últimos anos tem se falado muito sobre o projeto de expansão global da Oscar de la Renta; quais são os planos para o Brasil?
Há centros de compras fantásticos sendo
desenvolvidos em São Paulo, e temos conversado muito sobre as
possibilidades de abrir uma loja da Oscar de la Renta. Amanhã tenho
algumas reuniões e espero que a gente consiga abrir uma loja em breve.
Oscar é muito latino, a estética de seu design é muito influenciada pelo
local onde ele cresceu [Santo Domingo, capital da República
Dominicana], ele ama cor, feminilidade. A América do Sul, Central e o
Caribe são ótimos lugares para nós expandirmos nossa marca porque o que o
Oscar gosta coincide muito com o que os consumidores desses mercados
gostam. A longo prazo, acreditamos que o Brasil será um mercado
fantástico para nós. Dito isso, a importação de produtos é tremendamente
complicada e cara. Alguns de nossos competidores têm sapatos que custam
500 dólares em NY, por exemplo, e os vendem a 800 dólares aqui. Mas nós
não temos um negócio forte em sapatos e bolsas, e sim em roupas. Por
exemplo, o vestido da Eliza, que suponhamos que custa 4 mil dólares em
NY, se ele custar 7 mil aqui, com essa diferença você pega um avião para
NY, compra o vestido e volta. A médio e longo prazo, temos certeza de
que o Brasil será um mercado importante para nós. Queremos que nosso
negócio seja bem sucedido, queremos sentir que temos um bom plano para
que isso aconteça imediatamente. Se conseguirmos essa confiança,
esperamos que nos próximos 12 meses tenhamos uma loja Oscar de la Renta
aqui.
Para essa expansão global, a
empresa está recebendo algum investimento externo? Houve mais alguma
movimentação como a venda de ações ocorrida há alguns anos?
Nenhuma nova movimentação. Quando
trouxemos os negócios de fragrâncias de volta para dentro da empresa em
2009, trouxemos um investidor externo com tremenda experiência em
produtos de beleza e cosméticos. Esse investidor é dono de cerca de 25%
da companhia; o resto é da nossa família. Neste momento, não temos
intenção de trazer novos investidores. Mas não somos avessos a essa
ideia; quando olhamos para as oportunidades à nossa frente, precisamos
ver qual é a melhor maneira de transforma-las em realidade. Acho que há
certas vantagens em ser uma empresa familiar. Podemos tomar decisões
muito rapidamente, e somos muito comprometidos com nossa marca. Por
outro lado, há desvantagens. Como disse, não posso correr o risco de
abrir uma loja que não dê certo. Fazer publicidade em um shopping em São
Paulo é algo difícil pra gente bancar.
O fato de a Oscar de la Renta
ser uma empresa familiar a coloca em uma situação bastante única no
contexto atual da moda, em que quase todas as marcas de luxo fazem parte
de conglomerados. O senhor enxerga a companhia fazendo parte de um
grande conglomerado? E se isso acontecer um dia, o que mudaria na
maneira como a empresa funciona?
Antes de mais nada, quero dizer que não
temos nenhum plano nesse sentido. Mas nunca diga nunca. Acho que isso
depende dos nossos planos, do que vemos como oportunidades, e de como
executamos essas oportunidades. Se acharmos que queremos crescer
rapidamente, talvez faça sentido trazer um investidor externo. Como
seria fazer parte de um conglomerado? Não sei, eu estaria apenas
especulando. Novamente, ser independente tem vantagens e desvantagens, e
se em algum momento nós decidirmos que as desvantagens são maiores que
as vantagens, nós faremos as coisas de um jeito diferente.
E quanto ao lado criativo da
empresa? Tem havido muita especulação sobre quem poderia assumir o lugar
de Oscar de la Renta quando ele eventualmente se aposentar, e isso só
aumentou quando foi anunciado que John Galliano trabalharia no ateliê na
marca na preparação para o desfile de Inverno 2013.
Essa é uma questão extremamente
importante, e Eliza, Oscar e eu já conversamos muito sobre isso. Acho
que a boa notícia é que a equipe criativa que o Oscar montou dentro de
nossa companhia é excelente, e muitos estão com ele há bastante tempo.
Se o Oscar, Deus me livre, não aparecer para trabalhar amanhã, nós
seremos capazes de ter uma continuidade. Dito isso, é importante ter um
líder, uma pessoa que possa conversar com você, que não seja um
empresário como eu, então o tempo vai mostrar a direção que seguiremos.
John Galliano é uma pessoa por quem temos tremendo respeito
profissionalmente, foi ótimo tê-lo em nossos escritórios durante três
semanas. No momento não temos planos de nada mais do que isso, mas só o
tempo vai dizer. Ele é um homem muito, muito talentoso. Ele também é uma
pessoa com um passado controverso. Não somos uma marca que corteja
controvérsias. Por outro lado, somos uma marca que quer ser conhecida
pela excelência de design, e John claramente tem excelência de design; é
a parte da controvérsia que é um pouco mais problemática.
Oscar de la Renta ao fim de seu desfile Inverno 2013, que teve assistência de John Galliano ©Imaxtree
Voltando à questão dos negócios,
nos últimos 10 anos a Oscar de la Renta lançou muitas novas linhas como
os produtos para casa e as linhas infantil e de noivas. O ready-to-wear
continua sendo central na empresa?
Sim, sem dúvida nenhuma. Acho que é
importante que a gente continue expandindo para produtos autênticos, mas
que funcionem com nossa moda feminina, que é central. A moda continua
sendo a alma da empresa, mesmo que outras linhas estejam se tornando
cada vez mais importantes.
Em muitas grifes, as linhas de
acessórios e perfumes vendem mais que o ready-to-wear; o senhor acha que
isso pode vir a acontecer com a Oscar de la Renta? A empresa pode
começar a investir mais nesses setores do que no ready-to-wear?
Não sei se investiríamos mais nesses
setores, mas acho que é importante avançar nessas categorias. E temos
que ser realistas quanto às áreas em que somos fortes e as áreas em que
não somos, e decidir, nesses últimos casos, se podemos nos tornar fortes
ou não.
Na apresentação geral para a
imprensa que aconteceu hoje mais cedo, o senhor falou que já incentivou
Oscar de la Renta a investir na moda masculina; isso é uma possibilidade
real? Estão sendo feitos planos nesse sentido?
Neste momento não, mas já estudamos isso
bem de perto, e há três coisas que precisaríamos: 1°, um excelente
designer de roupas masculinas. Oscar é um excelente alfaiate, mas não é
focado em masculino. Ele passou 40 anos, quase 50, aprendendo o que as
mulheres amam, focando no que faz com que elas se sintam lindas. Ele não
precisa de ajuda para criar roupas femininas; roupa masculina é outra
coisa. O que ele veste ou o que eu visto não é necessariamente o que
funciona no mercado de moda masculina. 2°, precisaríamos de um excelente
empresário. Ninguém na companhia tem muita experiência em negócios da
moda masculina. 3°, o capital para garantir o bom lançamento da
empreitada. Acho que tudo isso é possível, e se conseguirmos a
combinação certa e o momento for certo, eu gostaria de me aventurar na
moda masculina. Veremos. Mas não é algo para este ano.
E quanto ao investimento em
internet e redes sociais? A Oscar de la Renta tem presença forte nas
novas mídias e realiza várias atividades como o live-pinning no Pinterest; qual a importâncias das redes sociais para a marca e como elas têm afetado as suas vendas?
Elas são muito importantes para a
companhia. O que é empolgante é que podemos falar diretamente com nossos
consumidores por meio das mídias sociais – podemos contar nossa própria
história. Temos a sorte de que uma colega nossa, Erika Bearman, a “Oscar PR Girl”,
assumiu grande parte das responsabilidades de comunicação. A nossa
marca tinha talvez uma imagem de que era para mulheres mais maduras, e
por meio dessa comunicação, acredito que mostramos para as mulheres de
uma maneira mais ampla por que elas devem amar e seguir a Oscar de la
Renta. Quanto às vendas, posso falar que o nosso e-commerce na oscardelarenta.com
cresceu 100% no ano passado. Para sermos justos, foi o crescimento de
um número pequeno para um número um pouco maior. Mas com esse tipo de
taxa, precisamos continuar investindo e expandindo essas atividades.
Acho que o que é interessante nas mídias sociais é que elas têm uma aura
bem século 21, contemporânea, mas são muito old school no
sentido de que é tudo uma questão de conteúdo interessante. É o que
sempre funcionou em livros ou em jornais desde o início dos tempos: se
alguém tem algo interessante a dizer — ou no caso do instagram e tumblr,
para mostrar –, as pessoas vão prestar atenção.
http://ffw.com.br/noticias/author/saralee/
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